Apesar de parecerem algo novo, os carros elétricos já existem desde o século 19. Eles tiveram algum destaque até por volta de 1915, quando o famoso modelo Ford T conquistou o mercado.
Mas isso não impediu visionários como o engenheiro João Conrado do Amaral de apostarem na volta dos elétricos. O paulista foi o responsável pelo projeto do primeiro veículo elétrico no Brasil e, também, na América Latina, ainda na década de 1970.
Amaral acreditava em um futuro elétrico e que esta seria a fonte energética certa a se apostar. Continue a leitura e saiba mais sobre o primeiro veículo elétrico no Brasil.
Qual foi o primeiro veículo elétrico no Brasil?
João Augusto do Amaral Gurgel tinha um sonho ambicioso: produzir um veículo brasileiro que pudesse concorrer com as montadoras multinacionais. Este foi o embrião para a criação de sua empresa, a Gurgel Motores, no final dos anos 1960.
Esta foi a primeira montadora totalmente brasileira e que foi responsável, também, pelo primeiro veículo elétrico no Brasil, o Itaipu. O nome foi uma homenagem à usina hidrelétrica localizada na fronteira do Brasil com o Paraguai.
Este primeiro protótipo, apesar dos seus méritos, acabou enfrentando barreiras e não teve sua produção em série.
Entretanto, ele serviu de base para o desenvolvimento do modelo E-400, da Gurgel, que foi, portanto, o primeiro veículo elétrico produzido em série no país nos anos 1980. A denominação surgiu a partir de uma referência à capacidade de carga do veículo – 400 quilos.
O Itaipu E-400, produzido em Rio Claro pela Gurgel, teve seu projeto desenvolvido para atender a uma demanda da Eletrobras, que lançou um desafio para renovar a sua frota, para que fosse criado um veículo que pudesse transportar 250 kg e que apresentasse autonomia de, pelo menos, 65 km e velocidade máxima entre 50 e 60 km/h.
Como era o primeiro veículo elétrico brasileiro?
O primeiro Itaipu apresentava um formato de trapézio e tinha sua carroceria feita de fibra de vidro. O veículo elétrico tinha 2,65 metros de comprimento e 1,40 metros de largura. O modelo comportava apenas duas pessoas em seu interior.
O motor desta primeira versão gerava 3,2 kW, o equivalente a 4,2 cv, o que proporcionava uma velocidade máxima de até 50 km por hora. Sua autonomia ficava entre 60 a 80 quilômetros com carga total. Já neste primeiro modelo, o carro elétrico era silencioso e sem emissão de fumaça.
Entre os desafios enfrentados, estava, justamente, a sua autonomia. Dado o seu peso e a limitação da capacidade das baterias, além da morosidade no tempo de recarga – que levava em torno de dez horas -, o veículo ficou apenas na fase de protótipo.
E como funcionava o primeiro veículo elétrico produzido em série no Brasil?
Já o Itaipu E-400, mantinha os atrativos de ser silencioso e não poluente, além de apresentar diferentes tipos de carroceria.
Um destaque do modelo era seu baixo custo operacional em relação a veículos utilitários movidos a motores de combustão – o consumo variava entre 0,27 e 0,35 kWh/km.
Entre os entraves enfrentados pelo Itaipu E-400 estava seu peso – cada bateria pesava em torno de 80 quilos, e o peso do veículo ultrapassava 1,5 tonelada. Isso fazia com que o seu sistema de freio sofresse sobrecarga recorrentemente.
Como era a condução do Itaipu E-400?
Há outra curiosidade sobre este modelo: ele era entregue ao comprador somente depois de se realizar um treinamento. Nele, eram vistos os cuidados necessários para a sua manutenção e as orientações para a direção e para se ter a autonomia mínima.
Somente recebia o veículo quem registrasse pelo menos 50% de aproveitamento neste treinamento oferecido pela Gurgel.
Quanto às diferenças na experiência, um ponto importante é que o acionamento do sistema demandava o uso de uma chave geral entre os bancos da frente. Era preciso, também, lidar com um período de tempo mais estendido entre as trocas de marcha do veículo elétrico, de modo a evitar o tranco na transmissão.
Como o Itaipu E-400 foi visto na época?
O modelo foi visto com bons olhos pelo presidente da época, João Figueiredo, e por autoridades governamentais. Registraram-se encomendas do veículo para compor, inclusive, frotas estatais.
Entre os clientes do Itaipu E-400, estavam companhias de energia elétrica e de telefonia, o Banco Itaú, a Souza Cruz, entre outros.
No entanto, como vimos, gargalos como a bateria utilizada na época, que era cara, tinha autonomia limitada e durava pouco, fizeram com que o interesse geral do mercado não fosse consistente para garantir um sucesso mais longevo ao modelo. Isso fez com que, apesar do baixo custo operacional e dos demais atrativos, poucas unidades do veículo fossem comercializadas e a sua produção fosse finalizada ainda em 1982.
A própria Gurgel buscou desenvolver baterias mais eficazes, leves e autônomas, porém, não obteve apoio governamental e acabou tendo de abandonar o projeto.
E, com a concorrência enfrentada a partir da reabertura das importações na década de 1990, a empresa acabou declarando falência e encerrando suas atividades. Apesar disso, deixou seu nome na história, sendo a responsável pelo primeiro veículo elétrico no Brasil.
O que você achou dessa história? Já tinha ouvido falar da Gurgel? Deixe sua mensagem nos comentários.